A minha
experiência se baseia muito no atendimento à adultos, tanto em processos
individuais quanto em workshops ou trabalhos em grupos. E se tratando de
adultos, pois aspectos se tornaram muito relevantes para desenvolver este
projeto do Pais Sem Pressa.
O primeiro aspecto refere-se a
grande observação a respeito das angústias dos pais de hoje. Nunca tivemos uma
geração de pais tão vigilantes dos seus filhos e ao mesmo tempo tão ausentes.
Estes pais pagam para rastrear o filho por GPS, mapeiam o que os filhos
assistem na web, controlam o que veem na TV, assistem por web cam como os
filhos estão se saindo na escola, levam a diversos profissionais para todos os
tipos de acompanhamento. Isto tudo no meio de uma tumultuada e tensa agenda de
trabalho. É a ansiedade sendo multiplicada ao invés de neutralizada. Ao mesmo
tempo, estão muito distraídos dos papéis de pais no que se refere a presença,
não somente quantitativa quanto qualitativa. O tempo ficou escasso, o cansaço
ficou elevado, a tecnologia nos deixa on line o tempo todo e as diversas opções
do que podemos fazer em nossos tempos livres nos afastaram de estarmos mais
próximos de corpo presente dos nossos filhos. Então começa também a surgir uma
geração de pais culpados, e exigentes consigo mesmo. Depositam no material e na
ascenção social a solução para suas ausências, ensinando aos seus filhos que
este é o caminho. Que por sua vez, por uma questão lógica, irá querer a mesma
ascenção ainda mais rápido visto que este é o caminho aprendido. Estamos nos
desconectando de nós mesmos para vivermos um conceito equivocado de rede. A
idéia colaborativa não é viver focado somente no “nós”. Mas sim no “eu + nós”.
Lembre-se: “em caso de emergência máscaras de oxigênio caíram a sua frente.
Certifique-se que a mesma esta devidamente colocada em você para então ajudar
aos demais”. Estamos esquecendo da parte “primeiro cuide da sua saúde, depois
cuide da saúde dos outros”. Estamos mais preocupados em parecer sermos bons
pais do que sendo. Postamos nas redes sociais imagens lindas de presença com os
filhos, mas estamos deixando de viver as imagens lindas com os filhos. E
mostrar é diferente de viver. Está na hora dos pais pararem de pensar que são
bons pais e começarem a ser bons pais. E isto é muito, mas muito diferente. E na
minha experiência, isto já está na consciência coletiva, apenas não sabemos
como resolver. Vivemos neste automático que não questionamos o que pode ser
feito de diferentes. Todos os pais querem mudança, mas nem todos os pais querem
mudar. Este foi o primeiro gatilho que me moveu a criar o movimento Pais Sem
Pressa.
O segundo aspecto é as crianças que
os adultos se tornam. A grande maioria das pessoas que cruzam pelo meu trabalho
não conseguem alcançar a vida que desejam. Passam muito tempo tentando, mas sem
resultados assertivos. Muita gente apenas sobrevive, e infelizmente poucos
vivem. Se tornam adultos murchos. A vida retirou deles todo o brilho, a
alegria, a esperança, o amor, a energia. E estas pessoas também me instigam. O
que ocorreu no caminho desta pessoa? Não acredito que isto seja genético ou
apenas azar do destino. Algo o levou até este ponto e este algo me interessa na
condição observador do comportamento humano.
Diante das experiências mais
profundas, geralmente em workshops de imersão, utilizo de ferramentas de
conexão com a criança interior de cada um. E na perspectiva de um adulto, não é
possível mudar a criança que fomos, mas é possível mudar a criança que temos
dentro de nós. Nestes últimos anos acumulando este tipo de experiência, percebo
que muito destas pessoas que murcharam ao longo da vida, são frutos de uma
educação familiar muito carente. Não tiveram experiências positivas e saudáveis
nas suas relações parentais. Iremos abordar diversos temas ao longo do livro,
mas o ponto-chave é perceber que não há a mínima possibilidade de desenvolver
presença, afeto e permissão em um estilo de vida pressionado, acelerado e com
pouco espaço para diálogos profundos. E é neste ponto que mais uma vez minha
experiência acumulada me leva a pensar na filosofia Pais Sem Pressa que
estaremos debatendo neste blog.
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